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Foto do Padre e a garota Tita, |
Pe. Ernesto Maria de Fina
Nasceu em 30/11/1867, na
cidade Sala consolina-Salermo, Itália. Filho do casal José Abbamonte e Jesualda
Abbamonte, foi batizado nesta mesma cidade.
Ordenou-se em 1891, e foi
mandado para a cidade de Ribeirão Preto, como coadjutor. Em 1897 foi designado
para receber sua primeira paróquia na cidade do Embaú.
Segundo Hilton Federice:
“No inicio, como é fácil compreender, toda atividade dirigente e evangelizadora
da Igreja Católica tinha que partir do Embaú, onde os senhores vigários tinham
sede, residência e um templo. Nada disso ocorria no Povoado da Estação, onde a
mais sensível das lacunas, era a ausência de uma verdadeira igreja.”
Antes mesmo da chegada do
Padre Fina ao Embaú, já existia dois movimentos distintos em curso: o primeiro,
era que o Povoado da Estação já reclamava há muito, a transferência da sede
municipal, para suas hostes (o que, contrariava em muito aos embauenses); o
segundo, era o desejo, já manifestado, do próprio Bispo de São Paulo, Dom
Arcoverde, em transferir a paróquia para o Povoado da Estação,
independentemente desse ser cidade ou não, pois o pároco era muito mais
solicitado pela população do Povoado do que pelos embauenses, uma vez que a sua
população já era bem maior do que a da sede.
É neste cenário
complicado, que o ainda jovem padre italiano, chega ao Embaú. E não demorou
muito para que ele percebesse que a tão propalada transferência, era mesmo
inevitável, e a executou.
Se para a população do
Povoado da Estação esta transferência foi benéfica, para o padre foi ela
simplesmente terrível. Houve um desgaste muito grande. A população do Embaú
chegou a maltratar o presbítero toda vez que ele tinha que ir ao Embaú. O
desgaste chegou a tal ponto, que o padre teve que ficar morando no próprio
Povoado. E como este, ainda não tinha sua casa paroquial, o Major Novaes teve
que sair em defesa do Padre hospedando-o na fazenda Boa Vista.
Este fato em si,
certamente não foi o estopim que culminou com a emancipação do Povoado da
Estação, mas sem dúvida alguma, temos
que creditar a ele, o mérito de ter incentivado, e muito, os políticos da
época, para tornar a emancipação uma realidade.
Padre Fina, totalmente
desgastado, pediu transferência para uma outra cidade. E assim, no limiar do
ano de 1898, é transferido para Pindamonhangaba, como padre coadjutor. Ainda
neste ano foi transferido mais duas vezes: em 28 de março, para a cidade de
Casa Branca e em 07 de novembro para Santos. No ano seguinte, experimentou mais
duas transferências, a primeira para a cidade de Campinas, onde substituiu o
padre local, que viajou para o exterior, e a segunda para a cidade de Jaú.
No inicio de 1900, em
gozo de férias, vem ao Povoado da Estação para visitar alguns amigos.
Influenciado por esses, pediu à Diocese que o transferisse de novo para o
Povoado da Estação. O que ocorreu, em 17 de março deste mesmo ano.
Durante este período,
aconteceram as mortes de Dona Rosalina e
posteriormente de seu marido o Dr. Celestino.
Celestina (Tita) já
estava casada com Virgilio Antunes e moravam na fazenda Boa Vista. Entretanto,
não sei ainda por qual razão, o Padre Fina foi nomeado tutor do irmão de
Celestina, o Antônio Celestino, que o criou por um bom tempo.
Em 04 de dezembro de 1919, foi novamente transferido. Desta vez a
cidade de Tabapuan, foi quem o recebeu.
Em 1920 foi mandado para
São Carlos, onde ficou até o ano de 1925, quando aconteceu a sua ultima
transferência, e esta foi para a cidade de Mirassol.
Em sua ficha, conseguida
por mim junto à Diocese de São Paulo, consta apenas uma nota fria.
“Em Mirassol,
novembro-1930, foi assassinado em sua paróquia, por motivos fúteis”.
Junto a esta ficha veio também a página de um
livro, onde o autor Ariovaldo Correa, cidadão mirassolense, conta a seguinte
história.
“O sacristão, que
chegava à igreja, para suas ocupações diárias, surpreso, deu, no adro, com
aquele ato de vandalismo. Correu à casa paroquial e chamou pelo vigário, à
janela do quarto:
---- Depressa, Padre
Fina. Venha depressa, que puseram fogo na cerca...
Uma voz veio logo de
dentro:
---- Mas, o quê? A
cerca? Queimaram a cerca?
Se o ato já se havia
consumado, não adiantava nenhuma pressa. O padre, porém naquela hora, nem
pensou nisso. Abalou-se da cama como um raio. Meteu a batina no corpo. Nem o
rosto lavou. Saiu para a praça, a passos largos, em companhia do sacristão,
ambos a falar, a falar.
O vigário, irritadiço como era, ia a gesticular pelo
caminho, em altos brados:
---- Malvados! Vão me
pagar caro o desaforo.
Não havia muitos
meses, o padre mandara construir a cerca. A nova Matriz estava quase pronta,
mas em frente dela existia ainda a primitiva capela, erigida em 1912. A cerca
atravessava o centro da praça, fechando-a desde a quina da Matriz até ao centro
da igrejinha. O prefeito da época – estávamos em 1929 – o coronel Victor
Cândido de Souza, quando soube que o vigário tencionava construir o tapume,
procurou convence-lo da inconveniência da medida.(...)
--- Fica muito feio,
Padre Fina – observou o coronel. Mirassol é uma cidade...
--- Feio ou bonito,
faço a cerca. Não posso admitir que os materialistas passem em frente à igreja,
que é a Casa de Deus, para irem à casa
do diabo...
Referia-se ao
Cine-Teatro S. Pedro, ao lado, inaugurado no inicio daquele mesmo ano de 1929,
com grande pompa. As quizilas entre o sacerdote e o empresário, Candido
Estrela, sabe-se, vinham de longa data. Considerava o sacerdote que o cinema
era nefasto. E o Teatro com suas bailarinas decotadas, uma imoralidade.
Quando comumente a
*sereia (havia uma sereia no cinema), anunciando o inicio dos espetáculos,
rugia pelos ares, repercutindo dentro do templo, à hora das rezas, o padre
esbravejava do púlpito, reclamando contra aquela falta de respeito:
--- É a boca do
inferno! Abriram a boca do inferno!(...)
Em certa ocasião, já
inúmeras ripas haviam amanhecido quebradas. O padre mandou consertar o tapume.
Não passaram muitos dias, e, agora a cerca desaparecia, inteiramente, reduzida
a cinzas. Era demais! O vigário pôs a cidade em polvorosa. Em poucos minutos,
pequena multidão se concentrava na praça. Mulheres que vinham da feira, homens,
que iam para o trabalho, jovens normalistas, que passavam para as aulas, todos
pararam, atônitos, e ali se postaram a ouvir as objurgatórias, flamantes, do
vigário. O homem estava possesso. Durante o dia todo, ninguém falou noutra
coisa. À noite, na reza, o vigário fez um sermão tenebroso. Antes de
termina-lo, porém, recuperando a calma, declarou, amargurado, que não mais
faria reconstruir a cercquinha de madeira. E com um doloroso acento na voz,
entrecortada pelas emoções, disse o padre:
--- Uma cerca
invisível há de continuar no mesmo lugar. Os bons católicos hão de senti-la
sempre ali. E hão de respeita-la...
Já faz tempo,
conversava eu com José Mardegan Neto a esse respeito. Ele disse-me:
--- Eu era coroinha.
Lembro bem do episódio da cerca e daquele sermão. Um sermão impressionante.
Nunca vira antes o padre Ernesto Maria de Fina to furioso.(...)”
* sereia – acredito que
devia ser uma sirene
Não quero de forma alguma
fazer associação de idéias, quanto ao assassinato do Padre. Apenas reescrevi
esta história para dar ao leitor uma noção de como era o Padre Fina – austero,
rígido e enérgico.
E tenho certeza absoluta,
de que o processo de emancipação da cidade de Cruzeiro foi abreviado em muito,
pela iniciativa deste padre, ao transferir a paróquia do Embaú para o Povoado
da Estação.
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