Em grandes vultos de Cruzeiro-sp...
NICOLINO FERRARI
Quatro de fevereiro de 1910. Neste dia, já tão longínquo,
certamente deve ter passado por esta cidade alguma nave estelar, que de certa
forma, não me perguntem como porque não sei, ela deve ter trocado o bebê de Da.
Joana Maria Ferrari e seu amado esposo, o Sr. José Ferrari. Porque só desta
forma podemos achar palavras para definir
o gênio literário, que foi o professor Nicolino Ferrari. Somente alguém
vindo diretamente das estrelas, podia e pode tirar do coração, um sem numero
de lindas metáforas.
Exagero meu?... não. Em seu primeiro livro “Alma Errante”
datado de 1937, encontramos os mais lindos poemas parnasianos, que arrancou os
mais sinceros elogios e criticas, de um outro fenômeno de inteligência rara –
Dr. Isaac Cerquinho.
Este senhor reeditou em 1937, a mesma admiração do profeta
Simeão no templo de Jerusalém, quando pegou o Menino Jesus nos braços e disse: “Agora
podeis me levar Senhor, porque meus olhos contemplaram o Seu Salvador”. Dr Isaac, também vivia exclamando: “Quando será que um
jovem nascido em Cruzeiro, começará a compor poemas e sonetos para mostrar ao mundo que aqui também tem
talentos?”
E sua alegria foi tão grande quando soube que um jovem de 27
anos, da cidade de Cruzeiro, ia publicar um livro de poesias. E ele não se
conteve dentro de si, e foi pessoalmente procurar Nicolino, em sua residência.
O livro que ora estava pronto para o prelo, possuía sonetos
feitos há três ou quatro anos, quando este neo-professor de 27 anos, fora ainda
mais novo.
Arrebatado pela obra ainda embrionária, Dr. Isaac é
convidado pelo jovem poeta, a prefacia-la, e o Doutor, orgulhosamente aceita. E o que se vê então nas primeiras páginas deste livro, é um misto de critica aguçada,
prefácio e uma análise de soneto a soneto, de verso a verso - Uma verdadeira
aula de literatura.
O valor da obra inaugural do jovem Nicolino, em minha
modesta opinião, ganhou proporções magistrais, justamente por ter sido julgada
por este homem, de cultura irrepreensível. E é ele que sintetiza e muito bem, o astro cruzeirense que
surgia.
“... Quão diferente, por exemplo, a situação de Nicolino,
da de Stefam Zweig, o poeta e escritor hoje de fama universal nascido em Viena
– berço de gênios --- e filho de pais riquíssimos, amparadores --- o meio e
seus pais --- da formação mental do futuro escritor, cuja fama havia de se
estender por todas as nações cultas do mundo!
Nicolino não teve também a felicidade de Álvares de
Azevedo e Castro Alves --- filhos de pais de altas posições sociais e que,
vivendo em meios grandes, desde o começo deram a seus filhos uma completa
educação mental à altura de seus próximos triunfos.
Nicolino Ferrari é pois, uma flor modesta, nascida de
modestíssima árvore cultivada neste canteiro de pequeno espaço, que é Cruzeiro,
meio de população heterogênea e flutuante, num movimento apenas comercial nesta
praça de futura expansão intercambial conservadora, sendo que agora é que
começa a despertar à vida literária e artística.
Fez-se poeta aqui mesmo em Cruzeiro, o que quer dizer que
“Alma Errante” é um livro tão rigorosamente cruzeirense como a tradição
e os festejos da Santa Cruz, que é a religiosidade mais antiga, mais
cruzeirense, das religiosidades desta terra.
Aos seis anos de idade Nicolino começou a mostrar seus
traços de poeta nato, ao pedir para que sua irmã Carmélia, então normalista,
lesse toda noite para ele dormir “O Pequenino Morto” de Vicente de Carvalho.
Mas a luta pela sobrevivência falou mais alto que a poesia,
na vida de Nicolino. Usufruindo então do diploma de Professor Primário,
recebido na Escola Normal de Guaratinguetá em 22 de dezembro de 1933, começou a
lecionar no Grupo Escolar Dr. Arnolfo Azevedo, desta mesma cidade, até 1938.
Concursado no estado, foi obrigado a mudar-se para a cidade
de Santos-SP, onde seu registro ficou sediado durante os anos de 1938 a 1960.
Sem vaga fixa nesta Delegacia de Ensino, é designado para fazer substituições,
em várias cidades.
Começou então aí, uma vida meio nômade. Em 1938 mesmo, foi
lecionar na Escola Masculina de Pinheiros - São Paulo-SP. De 1939 a 1940, na
Escola do Bairro Batalha, em Pirajuí-SP. Desse mesmo ano até 1941, lecionou na
Escola Masculina de Álvaro Carvalho, em Bauru-Sp. Em 1943, casou-se com uma senhora, já viúva, da cidade
praiana, de nome Helena de Azevedo Moura. Mas desde o ano de 1941 até o ano de
1948, já estava lecionando no Grupo Escolar Dr. Antônio de Moraes Barros, da
cidade de Itápolis-SP. Para esta cidade retornou meses depois, para ficar de 1949
até o ano de 1955, quando então voltou para Santos, e onde finalmente se
aposentou no ano de 1962.
Durante o período que ficou morando em Santos, editou o
livro “A Flor do Vale”, onde retratou de forma espetacular seu amor à cidade de
Cruzeiro.
Em 1975, a má sorte lhe visitou e retirou de seu convívio, a
esposa – um Câncer na região do tórax, foi a causa registrada em seu óbito.
Mas a poesia jamais o deixou.
Em 10 de janeiro de 1978, casou-se novamente. Hebe Lisle
D’Ávila é a senhorita que corresponde ao novo chamado de seu coração. E com
ela, ele viveu até Janeiro de 2004, naquela mansão que fica situada na Rua
Ipiranga, no bairro Washington Beleza, na cidade que o viu nascer e morrer:
Cruzeiro.
Infelizmente Deus, em sua sapiência, não destinou-lhe
filhos. Por conseqüência, seus genes não foram transmitidos via corrente
sanguínea. Mas certamente, sua herança poética estará sempre presente na alma
desta cidade, que um dia, ele mesmo a chamou de “A Flor do Vale”.
João de Assis