terça-feira, 21 de junho de 2016

Albertina Santos de Paula

Em Grandes Vultos de Cruzeiro...


Albertina Santos de Paula





Em meio ao inverno rigoroso do ano de 1912, mais precisamente no dia nove de agosto, nascia na cidade de Passa Quatro-MG a garota Albertina,  que vinha ao mundo como a Quinta filha do casal Olímpio e Áurea.
Filha de pai ferroviário, vê sua infância ficar cada dia mais pobre, porque em sua casa nasce mais um irmão, a cada ano vivido. Na pobreza em que viveu, certamente faltou muitas coisas para Albertina e seus irmãos, principalmente sapatos, roupas e brinquedos, mas uma coisa eu tenho certeza que não lhe faltou, foi o terno carinho de seus devotados pais.
Valente e trabalhador, “Seu” Olímpio trabalhava quase que sem folga, como maquinista do trem pagador. E quando questionado por colegas, como fazia para alimentar doze filhos, ele dizia: trabalhando muito... meu amigo, e confiando em Deus.
E foi trabalhando na reluzente locomotiva a vapor de No. 41, que era o orgulho de seu pai, que a família muda para Soledade de Minas em 1921. Nesta época Albertina estava com 9 anos de idade, e pelas dificuldades financeiras de seu pai, já estava atrasada dois anos na escola, pois foi com esta idade que começou a fazer o primeiro ano escolar.
Mas as dificuldades ainda estavam longe de serem sanadas, muito pelo contrário, num belo dia de sol, a máquina 41 apitou na saída do galpão e Albertina chegou à janela de sua pobre casa, para sem saber, dar o seu adeus a seu pai pela ultima vez na vida. Isto  é ela mesmo nos contaria mais tarde com singular beleza, em seus doces e eternos poemas. Um triste sinistro, rouba-lhe a vida de seu pai.
Se com ele vivo estavam já vivendo de maneira quase indigente, sem ele então é obrigada a sair definitivamente da escola, para trabalhar e ajudar no orçamento doméstico. E então, com dez anos de idade apenas, começa a trabalhar numa agência distribuidora de filmes, que o Capitão Antenor Gonçalves tinha levado para Soledade. Agência esta que mais tarde foi vendida para o Sr. Inocêncio Prince de Souza, mas Albertina continuou em seu emprego porque era muito competente. Tão pequena e já tão responsável...
Seu trabalho é tão brilhante,  que ela fica neste emprego até novembro de 1937, quando então é convidada por Antônio Biteti para gerenciar sua Agência de Filmes, na cidade de Cruzeiro. Resoluta e valente como seu pai sempre o fora, Albertina com 25 anos de idade, aceita o desafio e se transfere para Cruzeiro. Para se ter uma ideia de quão grande fora sua valentia, basta apenas que nos lembremos de que para o sexo feminino,  tudo lhe era proibido nesta época.
E já em Cruzeiro conhece o farmacêutico Antônio Augusto de Paula, que como ela também era mineiro, só que da cidade de Jesuânia. E é com este moço, que vem a contrair núpcias em março de 1941.
Albertina então deixa o emprego na Agência de Filmes e se dedica ao lar, mas mesmo assim, ainda trabalha em casa como costureira. È a forma que encontra para ajudar seu marido, que ganhava muito pouco, como empregado da farmácia Xavier.
E depois de certo tempo, e de muita economia e sacrifícios, conseguem realizar o desejo de terem o  seu próprio negócio: fundam a Farmácia Dom Bôsco, e dentro desta farmácia trabalham de dia e de noite, atendendo às famílias de Cruzeiro.
Torna-se mãe pela primeira vez, e Deus vendo que isso era bom, concede-lhe este prazer por mais uma vez. E estes filhos recebem os nomes de Maria Luíza e Antônio Joaquim.
 Desse trabalho incansável, consegue construir um conjunto com oito mini-casas, na rua Ana Santos, Vila Ana Rosa. Onde homenageia sua mãe, dando-lhe o nome de Vila Áurea, e as doam para a sociedade São Vicente de Paula, onde são assentadas oito famílias pobres.
Por este tempo Deus respira fundo, e neste respirar, tira-lhe o marido. Diverticulite, esta foi a desculpa que o Senhor deu para enviuva-la. Mas a incansável formiguinha continua sua marcha.




                                    De Soledade de Minas, não consegue e nem quer esquecer. E foram vários anos realizando o natal de 300 crianças carentes, com roupas e brinquedos e para algumas pessoas especiais, também cestas básicas. Este ato trouxe-lhe o reconhecimento dos soledadenses. E recebe então dois cartões de prata, um do ex-prefeito  José Vieira Rocha e outro da Família Soledadense.
E para suavizar a perda do marido, Deus toca-lhe fundo no coração poético que trazia escondido e abafado, e verdadeiras flores literárias  nascem deste peito sofrido. É um milagre que se realiza. É a prova indelével da manifestação de que o Altíssimo estava sempre  nela, pois apesar da terra ser fértil como sempre fora, não havia ali a presença do regato das letras. E longe , mas muito longe mesmo estava aquele inicio de segundo ano escolar, que tivera de abandonar. Mas mesmo assim insiste e realiza, com a firmeza e dedicação que sempre colocou em tudo que tentou realizar na vida, e escreve.
“VIVER SONHANDO”, “MEU SENHOR”, “ASAS DOURADAS”, “LEMBRANÇA DAS MINHAS LEMBRANÇAS”, “ALMA E CORAÇÃO” e “LONGA CAMINHADA”, são as suas respostas à dadiva do Pai. E tenho certeza absoluta que Ele, o Pai, ficou satisfeitíssimo com ela.
E a cidade de Cruzeiro ajoelha-se finalmente diante desta mulher miúda, mas que sem duvida alguma, tem a fibra de um gigante, e ajoelhando rende-lhe a homenagem que já estava lhe devendo há muito tempo: outorgando-lhe o título de Cidadã Cruzeirense.
E seus feitos não param ai, não. Da Itália vem o reconhecimento do Papa João Paulo II, pelo poema Quem é ele?, dedicado à SS. Da associação Paulista de Imprensa, chega-lhe uma medalha de Honra ao Mérito. Do diretor da antiga ENGESA, um louvor pelo poema Procissão... e etc.
E agora, vivendo um verdadeiro sonho, prepara-se para sugar o néctar maior de sua vida, ou seja, o de se tornar CIDADÃ SOLEDADENSE.
E perguntada por mim, se naquele coração havia alguma frustração, responde-me com a simplicidade própria dos seres de mente altiva.
--- Não, nenhuma... Deus me deu tudo.
Depois desta frase tão simples, sou eu agora quem dobro os joelhos diante desta senhora, pois, se sem  conhecê-la direito, já a queria tanto, imaginem então agora, depois que escrevi estas linhas.
E fazendo um coro uníssono, juntamente com seus filhos, seus netos, o povo de Cruzeiro e o povo de Soledade de Minas,    podemos carinhosamente te dizer:
NÓS TE AMAMOS... MAMÃE.







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