Em Grandes Vultos de Cruzeiro...
Albertina Santos de Paula
Em meio ao inverno rigoroso do ano de 1912, mais
precisamente no dia nove de agosto, nascia na cidade de Passa Quatro-MG a
garota Albertina, que vinha ao mundo
como a Quinta filha do casal Olímpio e Áurea.
Filha de pai ferroviário, vê sua infância ficar cada
dia mais pobre, porque em sua casa nasce mais um irmão, a cada ano vivido. Na
pobreza em que viveu, certamente faltou muitas coisas para Albertina e seus
irmãos, principalmente sapatos, roupas e brinquedos, mas uma coisa eu tenho
certeza que não lhe faltou, foi o terno carinho de seus devotados pais.
Valente e trabalhador, “Seu” Olímpio trabalhava quase
que sem folga, como maquinista do trem pagador. E quando questionado por
colegas, como fazia para alimentar doze filhos, ele dizia: trabalhando
muito... meu amigo, e confiando em Deus.
E foi trabalhando na reluzente locomotiva a vapor de
No. 41, que era o orgulho de seu pai, que a família muda para Soledade de Minas
em 1921. Nesta época Albertina estava com 9 anos de idade, e pelas dificuldades
financeiras de seu pai, já estava atrasada dois anos na escola, pois foi com
esta idade que começou a fazer o primeiro ano escolar.
Mas as dificuldades ainda estavam longe de serem
sanadas, muito pelo contrário, num belo dia de sol, a máquina 41 apitou na
saída do galpão e Albertina chegou à janela de sua pobre casa, para sem saber,
dar o seu adeus a seu pai pela ultima vez na vida. Isto é ela mesmo nos contaria mais tarde com
singular beleza, em seus doces e eternos poemas. Um triste sinistro, rouba-lhe
a vida de seu pai.
Se com ele vivo estavam já vivendo de maneira quase
indigente, sem ele então é obrigada a sair definitivamente da escola, para
trabalhar e ajudar no orçamento doméstico. E então, com dez anos de idade
apenas, começa a trabalhar numa agência distribuidora de filmes, que o Capitão
Antenor Gonçalves tinha levado para Soledade. Agência esta que mais tarde foi
vendida para o Sr. Inocêncio Prince de Souza, mas Albertina continuou em seu
emprego porque era muito competente. Tão pequena e já tão responsável...
Seu trabalho é tão brilhante, que ela fica neste emprego até novembro de
1937, quando então é convidada por Antônio Biteti para gerenciar sua Agência de
Filmes, na cidade de Cruzeiro. Resoluta e valente como seu pai sempre o fora,
Albertina com 25 anos de idade, aceita o desafio e se transfere para Cruzeiro.
Para se ter uma ideia de quão grande fora sua valentia, basta apenas que nos
lembremos de que para o sexo feminino,
tudo lhe era proibido nesta época.
E já em Cruzeiro conhece o farmacêutico Antônio
Augusto de Paula, que como ela também era mineiro, só que da cidade de
Jesuânia. E é com este moço, que vem a contrair núpcias em março de 1941.
Albertina então deixa o emprego na Agência de Filmes e
se dedica ao lar, mas mesmo assim, ainda trabalha em casa como costureira. È a
forma que encontra para ajudar seu marido, que ganhava muito pouco, como
empregado da farmácia Xavier.
E depois de certo tempo, e de muita economia e
sacrifícios, conseguem realizar o desejo de terem o seu próprio negócio: fundam a Farmácia Dom
Bôsco, e dentro desta farmácia trabalham de dia e de noite, atendendo às
famílias de Cruzeiro.
Torna-se mãe pela primeira vez, e Deus vendo que isso
era bom, concede-lhe este prazer por mais uma vez. E estes filhos recebem os
nomes de Maria Luíza e Antônio Joaquim.
Desse trabalho
incansável, consegue construir um conjunto com oito mini-casas, na rua Ana
Santos, Vila Ana Rosa. Onde homenageia sua mãe, dando-lhe o nome de Vila Áurea,
e as doam para a sociedade São Vicente de Paula, onde são assentadas oito
famílias pobres.
Por este tempo Deus respira fundo, e neste respirar,
tira-lhe o marido. Diverticulite, esta foi a desculpa que o Senhor deu para
enviuva-la. Mas a incansável formiguinha continua sua marcha.
De Soledade de Minas, não consegue e nem quer esquecer. E foram vários anos realizando o natal de 300 crianças carentes, com roupas e brinquedos e para algumas pessoas especiais, também cestas básicas. Este ato trouxe-lhe o reconhecimento dos soledadenses. E recebe então dois cartões de prata, um do ex-prefeito José Vieira Rocha e outro da Família Soledadense.
E para suavizar a perda do marido, Deus toca-lhe fundo
no coração poético que trazia escondido e abafado, e verdadeiras flores
literárias nascem deste peito sofrido. É
um milagre que se realiza. É a prova indelével da manifestação de que o
Altíssimo estava sempre nela, pois
apesar da terra ser fértil como sempre fora, não havia ali a presença do regato
das letras. E longe , mas muito longe mesmo estava aquele inicio de segundo ano
escolar, que tivera de abandonar. Mas mesmo assim insiste e realiza, com a
firmeza e dedicação que sempre colocou em tudo que tentou realizar na vida, e
escreve.
“VIVER SONHANDO”, “MEU SENHOR”, “ASAS DOURADAS”,
“LEMBRANÇA DAS MINHAS LEMBRANÇAS”, “ALMA E CORAÇÃO” e “LONGA CAMINHADA”, são as
suas respostas à dadiva do Pai. E tenho certeza absoluta que Ele, o Pai, ficou
satisfeitíssimo com ela.
E a cidade de Cruzeiro ajoelha-se finalmente diante
desta mulher miúda, mas que sem duvida alguma, tem a fibra de um gigante, e
ajoelhando rende-lhe a homenagem que já estava lhe devendo há muito tempo:
outorgando-lhe o título de Cidadã Cruzeirense.
E seus feitos não param ai, não. Da Itália vem o
reconhecimento do Papa João Paulo II, pelo poema Quem é ele?,
dedicado à SS. Da associação Paulista de Imprensa, chega-lhe uma medalha de
Honra ao Mérito. Do diretor da antiga ENGESA, um louvor pelo poema Procissão...
e etc.
E agora, vivendo um verdadeiro sonho, prepara-se para
sugar o néctar maior de sua vida, ou seja, o de se tornar CIDADÃ SOLEDADENSE.
E perguntada por mim, se naquele coração havia alguma
frustração, responde-me com a simplicidade própria dos seres de mente altiva.
--- Não, nenhuma... Deus me deu tudo.
Depois desta frase tão simples, sou eu agora quem
dobro os joelhos diante desta senhora, pois, se sem conhecê-la direito, já a queria tanto,
imaginem então agora, depois que escrevi estas linhas.
E fazendo um coro uníssono, juntamente com seus
filhos, seus netos, o povo de Cruzeiro e o povo de Soledade de Minas, podemos carinhosamente te dizer:
NÓS TE AMAMOS... MAMÃE.